Cartas
Não sou das apreciadoras de cartas, não nos tempos de hoje, não quando há a possibilidade de que as palavras possam ser ditas ao vivo. Considero aqueles que escrevem cartas uns covardes apaixonados, não só covarde, não só apaixonado, mas ambas as coisas. Aqueles que podem ser considerados honrados de ser a exceção dessa característica são aqueles que ao mesmo tempo em que escrevem, possam dizer isto pessoalmente, sem meias ou duplas palavras.
As cartas de amor me causam um amargor na boca, pois elas parecem seguir sempre uma mesma regra, como uma cartilha bem apresentada. Em grande maioria as cartas tornam-se um espaço egoísta em que a pessoa apresenta todas as coisas que fez, vai fazer e que deseja que seja. As cartas de amor masculinas parecem uma grande boca negra que decide engolir tudo que deseja, as cartas de amor femininas são olhos que entregam tudo que desejam entregar.
Das poucas cartas que recebi, conto nos dedos de uma mão as que apreciei e definitivamente não são de amor, a não ser que amizade também possa significar amor. As cartas de amor eram de um poder tão ínfimo como um fósforo aceso, enquanto lia as palavras anteriores perdiam o poder e tornavam-se ridículas a meu ver. Todavia confesso que nenhuma outra descrição maldosa possa ter capacidade de afetar uma carta de mãe, avó, por que as mulheres sabem adoçar as palavras como qualquer outra coisa presente na vida.
Não desejo resposta, tampouco peço que leia e entre em profundos pensamentos. Nem sei por que escrevi para você, só peço, por favor, que não pare de me escrever. Pois mesmo com suas falsas, lúdicas e bem delimitadas palavras, ainda assim admiro sua capacidade de ser tão covardemente apaixonado.
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